quarta-feira, março 30, 2005

As Ciências

Do latim «scietia», derivado de scire, «saber». No seu sentido lato é sinónimo de saber em geral e mesmo de habilidade técnica. Nos gregos epistemé, é um conhecimento simultaneamente eminente (um saber superior), universal (opõe-se ás particularidades) e teórico (difere das aptidões práticas); para os gregos a Filosofia é essa ciência suprema. Para os modernos é um conhecimento científico positivo (a «ciência experimental»), que se apoia nos critérios precisos de verificação permitindo uma objectividade dos resultados.

A filosofia das ciências (ou epistemologia) enuncia alguns problemas:

1. O problema da demarcação. Como é que reconhecemos que um conhecimento é científico? A resposta mais simples é: na possibilidade de o controlar através de factos pela experimentação. Dispomos então de um critério de distinção entre ciência e não ciência. Por exemplo, a filosofia não seria uma ciência, contrariamente ao que pensavam os Gregos, porque os seus argumentos, mesmo racionais, escapam ao conteúdo experimental.
2. A unidade da ciência. Devemos falar da ciência ou das ciências? Existem várias especialidades científicas, a ciência é portanto múltipla nos seus objectos. Mas possui uma unidade de método, sem a qual não poderíamos definir um critério geral que distinga a ciência da não ciência.
3. A classificação das ciências. A unidade do método não impede de classificar as ciências segundo o seu objecto; ex: o quadro enciclopédico de August Comte (positivismo). Por outro lado, essa unidade, apenas diz respeito às ciências experimentais. Não existirão outros tipos de ciências?
Podemos efectivamente distinguir 3 tipos de ciências:
a) As ciências experimentais ou empíricas. Referem-se a um dado objecto na experiência e validam-se através de controlos experimentais.
b) As ciências «formais». São a Matemática e a Lógica, baseadas na dedução a partir de axiomas. Nesta área, não há qualquer necessidade de verificação experimental. Podemos até mesmo discutir aqui o nome de «ciência» visto que, puramente formal, a Matemática e a Lógica não tem objecto exterior à sua construção.
c) As ciências humanas (Filosofia, História, Sociologia, psicologia, etc.). O seu estatuto é bastante controverso. Ou consideramos, com o positivismo que, se merecem o nome de ciências, podemos aplicar-lhes os métodos e a linguagem da ciência experimental: reduzem-se então a um caso especial desta última, ao lado das ciências da natureza. Ou pensamos, ao contrário, com o filósofo alemão Dilthey (1833-1911), que há motivos para distinguir entre «ciências da natureza» e «ciências do espírito» e portanto que, em virtude da particularidade do seu objecto (o homem), as ciências humanas dependem de um outro tipo de processo, fundado não sobre a verificação experimental, mas sobre a interpretação das intenções humanas (hermenêutica).

20 comentários:

«« disse...

Apesar de reconhecer toda a pesquisa que fez para o artigo, é minha convicção que quem estuda e reflecte a ciência terá que encontrar outra forma de a classificar. Acredito que todas as ciências são humanas e são exactas, pelo que essa classificação não me entra, apesar de reconhecer o valor de quem as classificou dessa maneira. Para finalizar nada do que escreveu consegue explicar essa dicotomia de ciências humanas e exactas....pufff...a montanha voltou a parir um rato...espero que um dia se sinta a necessidade de classificar a ciência de maneira a que a Neurociência também possa ser considerada uma ciência humana (porque é efectivamente) e que as Ciências do Desporto possam ser classificadas como exactas.

Miguel Pinto disse...

Eu não vou falar de ciência mas de crença. Eu não acredito em ciências de primeira e de segunda. E muito menos quando se trata de conhecimento. Peço desculpa por não saber desenhar uma pirâmide.

«« disse...

eh eh eh...não tivéssemos estudado juntos amigo Miguel....boa.

PS (salve seja) embora não tivésse interpretado essa taxonimia no texto da Rosa

RD disse...

Miguel Sousa, se são todas humanas e exactas, todas tem por objecto o homem e têm certezas sem dúvidas, logo nem precisa de haver interdisciplinariedade porque são auto-suficientes.
Estamos lá?
Há muitas mais classificações das ciências consoante cada autor. Sublinhei a ideia geral apenas.

Miguel Pinto, porque é que a sua mente o levou a pensar que existem ciências de primeira ou de segunda?
Uma separação pelo objecto e método não é uma hierarquia, ainda mais porque todas trabalham ou deveriam trabalhar juntas, pelo menos para mim.

RD disse...

Houve apenas uma evolução na separação das ciências.
A filosofia era a ciência suprema para os Gregos porque englobava a maior parte das outras (incluindo a ginástica).
A explicação para isto advém de muitas ciências não serem experimentais, até porque não o podem ser, e se preocuparem com o «porquê» em vez de com o «como». O positivismo de Comte preocupa-se com o «como» apenas e rejeita qq «porquê», mas também ele está ultrapassado há muito, apesar de eu conhecer ainda muitos. Surgiu como resposta no seu tempo, em que era preciso haver algum rigor para o conhecer.

«« disse...

N\ao vejo qualquer incompatibilidade no facto de serem exactas e poderem ser interdisciplinares *entendendo o termo como a possibilidade de contribuirem para a evolu;\ao das outras.

Por outro lado admitir que as ditas humanas n\ao s\ao exactas s]o porque n\ao sao experimentais, parece/me redutor e pouco abonatorio ate para a filosofia...nao me parece que para ser exata a ciencia tenha que ser experimental, contudo reconhe;o que e isso que os livros dizem...so que eu so os sigo quando concordo com eles..

RD disse...

Bien. Exactas para si é o quê Miguel?

Não sei qual é o problema para a Filosofia! Eu reconheço claramente que a Filosofia não é exacta, se fosse, para quê pensar no que pensamos? Faria sentido?
Há humanas experimentais, mas não é o caso da Filosofia. Não acima nem abaixo nem ao meio, é diferente apenas. Preocupa-se em pensar, duvidar e expôr sob todos os ângulos. Nela não se ensina, aprende-se.

Esse teclado está todo fanado ou é impressão minha? ;)

«« disse...

já resolvi o problema do teclado...mas continuo a achar que os filosofos são exactos, porque utilizam um método e fazem-no segundo regras do mesmo

RD disse...

Qual é o método e quais as suas regras que diz que esses "filósofos" utilizam? Eu cá por mim lembro-me de alguns e em variados campos mas que não garantem exactidões.

«« disse...

pois, e concordo, mas não será o mesmo que se passa com as ciências exactas, tb têm métodos, as descobertas são comprovadas (mesmo experimentalmente) mas no dia seguinte outra descoberta deita a baixo a primeira....o que é que isto tem de exacto. Rosa acho que respeitamos a ciencia da mesma maneira, o unico ponto que parece que discordamos é nas denominações, mas a culpa não é nossa, é só porque ainda não foram (os cientistas) capazes de arranjar melhor...é como a democracia....por isso é que engolimos, não porque seja perfeita, mas porque é o melhor dos péssimos sistemas políticos existentes...

RD disse...

Ciências exactas são a Matemática e a Lógica e que não são experimentais nem o seu objecto é o homem.
As outras são ciências, que como diz Popper, têm certezas até que não venham outras. Mas são verdades enquanto as são e enquanto não são ultrapassadas
As humanas não "funcionam" assim. As humanas podem ser superadas sim, mas na sua maioria funcionam em paralelo. Há muitas teorias que apesar de antigas continuam a prevalecer.

RD disse...

Concordamos pois, tenho imenso respeito pelo saber quer seja da área humana ou científica, mas também não lhe disse que defendia essa divisão das ciências em pleno. Só expus o que a epistemologia defende. ;)

carlos disse...

...cada vez mais me convenço de que não há Ciências, mas apenas estudos cientificamente orientados, como dizia Lucien Febvre a respeito da História.

...mas isto é só uma questão de "olfacto", claro, não é uma Lei geral e, portanto, nada tem de científica ;)

RD disse...

Essa ultima parte... era mesmo provocaçãozinha... hehe.
Bem, o que escrevi acima à Beatriz denuncia-me de certa forma. Respeito a ciência, mas creio que sem "olfactos" esta de nada nos serve. E quando digo olfacto refiro-me a ver mais longe. Entender causas (porquê's), perceber/entender e conhecer o presente e conseguir ver mais além. Se nos fechamos estagnamos.
Digo eu na minha inocência de crente*

Miguel Pinto disse...

Que grande conversa esta que se passou por aqui. R. Dart, a minha mente levou-me a pensar que existem ciências de primeira e de segunda porque é uma mente perversa. ;)
Só um pequeno acrescento, se eu soubesse desenhar uma pirâmide seria extremamente religioso.
Miguel
Lembrei-me do Patrício quando li este texto. ;)

RD disse...

Essa mente perversa... ai ai ai! :)

MP, só não percebi essa da pirâmide. Tem alguma coisa a ver com o colocar o Absoluto na ponta, ou agora sou eu quem anda a divagar?*

«« disse...

estás falando da piramide dos "saberes"...muito interessante...quiçá melhor do que a propria escola cultural para o entendimento da questão

Miguel Pinto disse...

É isso mesmo!

«« disse...

iSSO FOI O MAIS BONITO DE TUDONO QUE MNANUEL PATRÍCIO ME ENSINOU...E FOI MUITO

Anónimo disse...

Achei um espectaculo a forma como o miguel e o miguel e a rosa pensam.
Eu acredito em deus e tambem nas ciencias !
Beijinho e votem BARACK OBAMA !