segunda-feira, julho 18, 2005

Opinione

A partir de uma conversa, ressalta a palavra opinião.
Do Latim opinione, significa maneira, modo pessoal de ver; aquilo que se pensa sobre determinado assunto; juízo, parecer, voto.
Aplica-se a crença, credo político ou religioso e liga-se a convicção.
Pode ser «opinião pública» - aquilo que se pensa comummente num determinado grupo social; pensamento comum a todos - e pode «fazer-se opinião», isto é, obter a adesão dos outros à sua opinião, pela validade que lhe é reconhecida.

A certa altura da conversa, alguém disse: “opiniões e gostos não se discutem” e isto é falso.
A citação antiga era "de gustibus et coloribus non disputandum", antepassada do nosso provérbio “Gostos não se discutem”. Pois o «não se discute» é mesmo só aplicável aos gostos e às cores.

Opiniões não são como os gostos, discutem-se.
Se não se discutissem, seriam dogmas em vez de opiniões.
Um dos elementos que podem ser decisivos é colocar as coisas sobre a mesa, assumir que temos de discutir o que fazemos, na esfera profissional e nas outras esferas também.
E discutir não é zangarmo-nos pelas diferenças de opinião.
É muito mais no sentido de procurar as raízes das coisas, do debate de razões ou dos fundamentos das práticas – porque ter uma opinião não pode ser couraçar-se, fechar-se numa redoma mas antes confrontar-se com provas, factos e evidências.

E julgo que as opiniões não valem todas o mesmo, não são todas igualmente respeitáveis.
Como afirmou Savater, todas as pessoas são respeitáveis; algumas opiniões não são.
Pensar que a opinião de todos vale o mesmo é uma falácia, uma pretensa liberalidade.
As ideias não valem a não ser que quem as sustente possa aduzir provas, dados, raciocínios.
Quando se afirma opinião, tem de se ser capaz de fundar e justificar essa opinião de forma consistente.
Ou não?!

Como sei que a maioria passa e não espia por vezes os links, senti-me no dever de transcrever no seu todo (mais uma vez), um pouco da clareza e lucidez da LN.
Para reflectir e... leiam Savater!

segunda-feira, julho 04, 2005

A Moda nas Democracias

(...) a forma moda que analisamos não é antitética do «racional», a sedução é já em si, em parte, uma lógica racional que integra o cálculo, a técnica, a informação, próprios ao mundo moderno; a moda acabada é o que celebra as núpcias da sedução e da razão produtiva, instrumental, operacional. De modo nenhum uma visão dialéctica da modernidade afirmando a realização progressiva do universal racional pelo jogo contrário das inclinações particulares, mas a potência da autonomia de uma sociedade ordenada pela moda, aí onde a racionalidade funciona com a efemeridade e a frivolidade, onde a objectividade se institui em espectáculo, onde a dominação técnica se reconcilia com o lúdico e a dominação política com a sedução. Depois, não aderimos sem reservas à ideia do progresso das consciências; na realidade, as Luzes avançam, indissociavelmente misturadas as seu contrário, o optimismo histórico implicado pela análise da moda deve ser acantonado em estreitos limites. Com efeito, os espíritos no seu conjunto são mais informados mas mais desestruturados, mais adultos mas mais instáveis, menos «ideologizados» mas mais tributários das modas, mais abertos mas mais influenciáveis, menos extremistas mas mais dispersos, mais realistas mas mais imprecisos, mais críticos mas mais superficiais, mais cépticos mas menos meditativos. O acréscimo de independência nos pensamentos caminha a par de mais frivolidade, a tolerância é acompanhada de mais indiferença e de relaxação na coisa pensante, a Moda não encontra modelo adequado nem nas teorias da alienação nem nas de uma «mão invisível» optimal, não institui nem o reino da despossessão subjectiva final nem o da razão clara e firme. (...)
A Moda produz inseparavelmente o melhor e o pior, a informação vinte e quatro por vinte e quatro horas e o grau zero do pensamento, e cabe a nós combater, pelo nosso lado, os mitos e os apriori, limitar os malefícios da desinformação, instituir condições para um debate público mais aberto, mais livre, mais objectivo. Dizer que o universo da sedução contribui para a dinâmica da razão não condena ao passadismo, ao «tudo vai dar ao mesmo», à apologia beata do show business generalizado. (...)
Em todo o caso, e ao contrário dos estereótipos com que a enfeitam, é a idade da moda que mais tem contribuído para arrancar o conjunto dos homens ao obscurantismo e ao fanatismo, para instituir um espaço público aberto, para moldar uma humanidade mais legalista, mais madura, mais céptica. A moda acabada vive de paradoxos: a sua inconsciência favorece a consciência, as suas loucuras, o espírito de tolerância, o seu mimetismo, o individualismo, a sua frivolidade, o respeito pelos direitos do homem. No filme de alta tensão da história moderna, começa~se a perceber que a Moda é o pior dos argumentos à excepção de todos os outros.

Gilles Lipovetsky, O Império do Efémero - A Moda e o seu destino nas sociedades modernas.