terça-feira, março 29, 2005

Fenomenologia

Do grego phainomenom, «o que se mostra», e logos «discurso»,«ciência» - Ciência dos Fenómenos.
O termo fenomenologia aparece na obra de Jean Lambert em 1734, com o sentido de «doutrina da aparência». É em seguida retomado por Kant e sobretudo por Hegel que publica a Fenomenologia do Espírito em 1807. Esta última é a história do desenvolvimento progressivo da consciência, desde a simples sensação até à razão universal ou «saber absoluto». Mas foi com Husserl, à beira do séc. XX, que a fenomenologia nasceu verdadeiramente, não tanto como uma escola ligada a uma doutrina ou a um sistema, mas mais como um movimento de pensamento impondo a si próprio a tarefa, sempre renovada, de descrever o que aparece enquanto aparece, graças a um método: o «método fenomenológico».
Quando a consciência está absorvida na crença das coisas, ingenuamente, ignora a essência do fenómeno (do que nos aparece e não do que se "vê"), e então o método fenomenológico consiste num colocar entre parêntesis, numa suspensão de qualquer crença imediata e ingénua na existência das coisas - a chamada epoké - que é uma redução ou recondução desse mesmo fenómeno à consciência como à sua fonte de constituição.
A consciência deve desde logo ser compreendida como um puro acto de «se lançar na direcção de», que Husserl nomeia de intencionalidade: "Qualquer consciência é consciente de alguma coisa". A redução é dita transcendental (do latim transcendere «passar para além», e que independentemente de qualquer experiência torna possível qualquer conhecimento), porque desvela a consciência, e sem isso os fenómenos não teriam qualquer sentido nem qualquer ser.
Husserl (1859 -1938), deixou como discípulos Heidegger, Merleau-Ponty e Max Scheler.

6 comentários:

«« disse...

como sabe esta area contribui para o avanço de muitas outras ciencias...pelo que sugiro um aprofundamento, não baseado nos autores de referencia, mas no constructo que as leituras ajudaram a construir soubre o assunto.

RD disse...

A fenomenologia enquanto método não parou de dialogar com outras disciplinas, principalmente com as ciências humanas. Visto que quer mostrar que a consciência nunca é um fenómeno, mas sim, aquilo que torna possível os fenómenos, ela é sempre vigorosamente oposta ao «psicologismo» que tenta reedificar a consciência, fazendo dela um objecto da natureza explicável graças às leis científicas. Forneceu, aliás, ferramentas descritivas bastante fiáveis a alguns teóricos da psiquiatria ou da sociologia. Também houve interesse por parte das ciências cognitivas, mesmo parecendo paradoxal, porque tentam usar a descrição husserliana da intencionalidade no estudo científico de uma consciência pensada como objectiva e natural.
Vou mas é fazer-lhe um post sobre as ciências Miguel, é melhor*

Clara Cymbron disse...

Existe uma psiquiatria e uma psicologia fenomenológico existencial que deriva da filosofia e tem autores bastante interessantes. Na filosofia confesso gostar bastante de Ponty.

RD disse...

Também sou fã do homem. Um dia destes vou dar-lhe a atenção devida.

«« disse...

Tenho uma pena do caraças que este texto não tenha sido alvo de mais reflexão. Este tema e o da ética são os que mais gosto....e onde podia aprender mais (já que é condição importante gostar, para que se maximize a aprendizagem)

RD disse...

Se arranjar tempo, que isto está a apertar, prometo trazer cá mais qualquer coisa sobre a fenomenologia. Se o Miguel quiser realmente entrar no tema da fenomenologia, sugiro-lhe Husserl, Meditações Cartesianas.