quarta-feira, abril 27, 2005

Psicologia Transpessoal

Obviamente existirá toda uma série de conceitos nos quais eu não vou entrar por falta de tempo e por abordar este tema de uma forma muito, muito sucinta e sem grandes pormenores. Poderei eventualmente aprofundar alguns aspectos quando for oportuno no futuro e sempre que os leitores demonstrarem interesse, limitando-me a transferir os poucos conhecimentos que vou amealhando, não sendo propriamente um “expert” mas apenas o amador (aquele que ama) que gosta de partilhar os seus valores.
Como todos sabem ou podem facilmente depreender, a psicologia mais de que qualquer outra ciência cruza diversos campos das ciências ditas experimentais ou com substratos físicos mais evidentes. Numa lógica humanista e contrária a uma ciência redutora que perspectivaria o estudo humano segundo leis mecanicistas surge ou vai surgindo uma necessidade de englobar o ser humano no seu todo, conferindo um outro sentido à sua necessidade de auto-conhecimento. É neste contexto que surge esta ciência emergente denominada psicologia transpessoal ou psicologia da consciência.
Para melhor compreensão destes conceitos convém debruçarmo-nos sobre dois aspectos fundamentais, o transpessoal e a consciência. O transpessoal muito sucintamente define o que vai para além do pessoal ou ego propriamente dito e definiria o “eu” como uma entidade talvez mais “alargada” do que o entendimento comum, onde o ego poderia funcionar como condensador de uma realidade maior. A consciência é o complexo de fenómenos psíquicos que se apresentam na unidade de tempo e que permitem o conhecimento do próprio eu e do mundo exterior. Pode ser ainda definida de um modo mais abrangente, como a “totalidade da experiência momentânea inserida na corrente contínua da vida psíquica”. É precisamente no cruzamento do transpessoal com a consciência que surgirá a realidade. Os conceitos de sincronicidade e de processo de individuação encorajam-nos a derrubar fronteiras entre subjectividade e objectividade, psique e matéria, causalidade e teleologia (finalidade do ser). Enquanto o físico trabalha com a matéria que se forma no cérebro, o psicólogo trabalha com realidades psíquicas que acredita condicionarem o conhecimento da realidade física. No fundo, ambos mergulham numa única realidade, visto que de ambas as partes existe um referencial de crenças do ponto de vista do self ou da supra-consciência : o Unus Mundum de Jung?
Na psicologia da consciência teríamos que falar de muita coisa: dos sonhos, da vigília, realidades intermutáveis, kundalini, transmigração da alma, estados modificados da consciência, tempo, identidade, ética, espiritualidade, evolução e expansão da consciência. O transpessoal é uma maturação do ser que depois de um percurso purificado faz evoluir o seu próximo, evoluindo com ele.
O campo mais explorado pelo psicólogo “pronto” e ciente da sua responsabilidade é a psicoterapia através da qual ele é testemunha da mudança do seu paciente, pois ele acompanha-o no seu caminho, facultando-lhe ferramentas para a sua evolução que lhe permitam a reestruturação vivencial. Tomando consciência no verdadeiro sentido da expressão ou seja, subindo graus na pirâmide do seu auto-conhecimento. Ele vivência toda a sua realidade, ele é o epicentro perfeito do universo, sintonia do homem com o cosmos, harmonia divina.
Não poderia acabar este humilde artigo sem fazer referência ao grande mestre Português em matéria de transpessoal, estou a falar do Dr. Mário Simões, psiquiatra, professor da Universidade Nova de Lisboa. O meu grande mestre Carl Gustav Jung, dissidente do Freud (com quem trabalhou num primeiro tempo) e grande teorizador do inconsciente colectivo, Ian Stevesson, psiquiatra americano, Pierre Weill, Seymour Boorstein entre outros psicoterapeutas e investigadores. Poderão também as pessoas interessadas visitar o site da ALUBRAT (associação Luso-Brasileira de Transpessoal). Espero ter desta forma dado o meu contributo para quem procura estar mais perto dos outros e do grande complexo do universo e quem sabe de dEUS.
Um óptimo teste para verificar se ficou alguma coisa de tudo que leram é responderem com honestidade a pergunta quem sou eu? Espero que a vossa resposta tenha sido diferente, antes de lerem esta crónica e agora. Será? Quem sou eu?

19 comentários:

Anónimo disse...

Esse é na minha perspectiva o futuro da Psicologia. Gostei deste resumo e principalmente de constactar que se começa a integrar de uma forma mais alargada e exotérica a evolução individual e o auto conhecimento no estudo psicossomático do Homem. Obrigado pela partilha Pedro. Aquele abraço.

RD disse...

Então vamos ficar a aguardar invenções PJG ;)

Anónimo disse...

Vou arriscar a primeira de todas as invenções: DEUS.

RD disse...

Por acaso isso do "refazer" é interessante. Não é recriar - é refazer a Criação. Por esta ordem de ideias, Criação só há uma.
...
À frente.
Pedro, gostei muito do teu texto e agradeço-te a atenção de me teres feito a vontade :)
Acho que este assunto é pertinente, na medida em que qq pessoa sabe e sente, que não é só um conjunto de ossos encarnados com a roupagem dos músculos e nervos, a cobrir. Somos tb mais do que conjuntos de neurónios que reagem químicamente. Há mais do que a razão. Há entremeios que ficam por resolver e explicar.
PJG a dimensão espiritual não tem relação directa com Deus.
Tem mais a ver com a relação com nós mesmos, entre nós e de nós com o mundo, com o todo. Empatia, simpatia, amizade, amor e até Deus se quisermos.
Pedro, quase que arriscava a dizer que o cruzamento da transpessoal com a consciência equivale pouco mais ou menos ao método fenomenológico. É pela tomada de consciência de si, fora de si e no regresso a si, que o ser conhece, quando a consciência regressa cheia do mundo e das coisas. É ali que o ser ao tomar consciência se conhece. Quando pensa os seus pensamentos.
Diz-me Pedro, o referencial de crenças do sujeito pertence a um experienciar ou/a um vivenciar psicológico e não físico, correcto? A consciência não tem idade, daí o caminho do auto-conhecimento ou a "maturação do ser", como lhe chamas (boa def.).
Mais uma questão, no percurso da procura do conhecimento, que tende teleologicamente para o Bem/Felicidade/Beleza/Harmonia/Verdade/Deus/Absoluto (dependendo da filosofia ou religião) - e isto duma forma idealizada só se tornará concreto no caso de evoluirmos nós e uns com os outros. Ok. Concebo a ideia como o continuum perfeito. Mas acontecerá - pergunto-te eu?
Um abraço para o Norte.

RD disse...

PJG, agnóstico ou ateísta?

Anónimo disse...

Antes de mais agradeço todos os comentários, pois a discussão é sempre salutar.

Para responder ao Kavalier Clay, a psicologia transpessoal nunca colocou Deus num plano diferente do Homem, concordo em pleno ctgo qdo dizes que és dEUS, pois téns toda a razão. No ser dEUS, está todo o cerne da questão. Esta filosofia, nova ciência (questão terminológica sem qualquer tipo de importância) visa a união e não qualquer especie de dicotomia absurda, daí o exemplo no texto entre o físico e o psicólogo que no fundo estão ambos presos a um referencial de crenças. Posto isto, reafirmo, sim Kavalier és dEUS e contribuis grandemente para a sua beleza, perfeição e verdade.
Quando eu falava no meu contributo, refiria-me apenas à minha perspectiva, de resto, não tenho nada para vender, nem ninguém para contrariar.

Rosa,
ainda volto com mais calma para te responder.

Anónimo disse...

Antes de mais, uma palavrinha para o amigo Vasco, sempre desperto e profundo conhecedor de verdadeiros segredos exotéricos. É optimo partilhar estas perspectivas contigo porque a mensagem já está em muito do que crês.

Rosa, como sabes foi muito honroso para min escrever neste espaço de muita sabedoria, muito inter-cambio intelectual. Do qual és a principal obreira.

Poderemos falar sim do método fenomenológico. O despertar da consciência dá-se quando estamos em nós perante qualquer criação divina ou da natureza para aqueles que acham que isto será um discurso religioso, pois pela parte que me toca, para mim : SEM.
Unidade com o todo, reparem : a minha mão esquerda é uma parte física de mim, no entanto, a direita tb mas ambas são entidades tb distintas não? Não somos nós milhões de células? Cada uma com sua vidinha, certo? mas todas, uma pessoa, que poderiam ser outra pessoa!

No que diz respeito ao referencial de crenças, bem, creio fundamentalmente que a ideia precede a acção, mas nunca negligenciando o plano material, pois sem ele nada somos também e pelo menos neste mundo que é físico, temos que o respeitar muito também. Mente pura, coração nobre, corpo são!

Perguntas-me se poderemos contar com toda gente para unidos, caminhar-mos para uma maior felicidade. O ideal é sempre uma meta, mas isto é um pouco como os limites da democracia. Nada se impõem à uma pessoa livre e adulta, vai claramente com o libre arbitrio. Não sou ingénuo para dizer que toda a gente pode intender, porque muitas pessoas agarram-se ao poder ou a ilusão de poderem ser mais que os outros e vendo- os como ameças. Não sendo ingénuo mas também não sou resignado pois continuo a trabalhar a minha maneira para que não estejamos tão longe uns dos outros.
A ONU é um exemplo, vão-me dizer : mas não impedem guerras etc!...calma mas temos que ir aos poucos, ainda vamos na escola primária...O ideal de Comenius continua vivo, estamos na Europa. Viva o Quinto Império!!!

Abraço ciclónico para essas fogosas a apaixonantes ilhas atlanticas.

RD disse...

Pedro, obrigado pelas tuas palavras, mas deixa que te diga, que este espaço público pretende interactividade acima de tudo, de forma a que se fomente o espírito crítico. Por isso sem vós, ele de nada serviria.
Conto portanto com vocês e com todas as diferenças que nos compõem. Não se privem de expôr as vossas dúvidas e críticas, doutra forma não evoluimos.

Pedro, o método fenomenológico é aplicado em variadas ciências e o seu príncipio é sempre o mesmo, a redução ao eu puro através duma epokhé. Obtêm-se resultados diferentes consoante cada filósofo, em Husserl o resultado será um sujeito que se fecha sobre si e só se abre ao mundo mais tarde, em Heidegger por exemplo, o ser está-no-mundo imiscuído com as coisas e faz-se sendo. Só depois fará uma redução para se (re)conquistar, uma espécie de limpeza das influências mundanas supérfluas.
Penso que a transpessoal irá mais ao encontro da filosofia de Husserl, até porque este trata a estética já não como um resultado do impacto da obra de arte no sujeito - afectividade, mas sim tendo a obra de arte como autónoma, ela vale por si como comtemplação.
Perguntas tu, mas que raio é que isto terá a ver? :)
Tem tudo a ver, o Ser conhece-se nunca independente da matéria (mundo) como dizes, mas porque está nele. Tem é necessidade de pensar-se, e é através desse olhar para dentro de si que se encontra, pensando-se e pensando os seus pensamentos. Tendo consciência do que o rodeia pelo que ele vive e pensa - mas o que pensa está lá, é instrumentalidade do seu modo de ser. Serve-o. Há também na transpessoal uma união entre as formas (ideias) e a matéria que unifica o conhecimento ou a transpessoal apesar de não descuidar a matéria supera-a e transcende-se para as ideias? Perdoa-me se já estou a discorrer, mas quero saber só um pouco mais da vossa psicologia. Aguardo-te mais uma vez amigo Pedro.
Bjinhos.

dinorah disse...

Querida amiga, só agora descobri este blog, q não sabia q era teu! Já percebi que é um local de elevadas discussões, o que sempre me cativou, mas não sei se estarei à altura de comentar... veremos, vou ler! parece-me deveras interessante!!

PS- Qd voltas ao Faial?
beijinhos

RD disse...

Dinorah, fico muito contente que me tenhas achado pela calada, não costumo publicitar este blog porque sei que nem toda a gente tem paciência para vir ler ou comentar estas questões. Só mesmo para quem gosta ou tem curiosidade. Não te deixes levar pelos palavrões que encontrares por aqui, no fundo as grandes questões são interrogações de crianças do género: Como posso conhecer? O que posso conhecer? E todo o resto que daqui advém.
Cada filósofo escreve da sua maneira, cada um tem as suas ideias, mas todos eram pessoas com as mesmas inquietações que nós. Com isto faz as perguntas todas que quiseres, traz novas questões, diz o que te vier à cabeça que eu e quem por cá passa fazemos o mesmo, só que cada um também à sua maneira.
Sabes amiga, isto é tudo muito simples, parece é complicado! :)
Servem os textos para primeiras abordagens com o palavreado e para um contacto da vossa parte com a filosofia.
Deste lado não há lapas nem bolos levedos mas sente-te em casa e serve-te à vontade!
Um beijinho grande e sê muito bem vinda à minha àgora. :)

RD disse...

Vou ao Faial a um casório dia 24 de Maio e regresso cá a 29. Entrego o poster a teu irmão lá não é, manda-me um email com a morada dele ou o seu contacto, perto da data, ok? Bjinho*

Anónimo disse...

Rosa

Agnóstico... simpatizante do ateísmo.

RD disse...

Beatriz, aqui nunca se vem tarde. Até podes ir comentar textos de arquivo que eu respondo sempre, se for pa responder.
Gostei do teu ponto de vista, o meu aproxima-se.
Vou ver se posto em breve uma das explicações sobre Deus. Gosto do argumento de Sto Anselmo, é simplório mas é-me suficiente.
Beijinhos.

RD disse...

PJG... É curiosidade só, tenho que me ir preparando para a mini-tertúlia. ;) bj.

Anónimo disse...

mantive-me afastado da discussão propositadamente, mas fiquei feliz com a vivacidade da discussão.

pedro, obrigado por me esclareceres toda esta questão do transpessoal. pelas conversas que vamos levando penso que o entendi e sim, acho que existimos todos numa envolvente mais complexa do que aquilo que imaginamos...

rosa, obrigado pela tua prontidão e pela tua actualização filosófica constante.

PJG, não vale a pena colocar-se sempre do outro lado, acho que estamos todos mais próximos do que aquilo que possa imaginar.

beatriz e vasco, obrigado pela vossa constante lucidez

RD disse...

Hello Vitor.
Estamos todos mais perto do que se pode imaginar, ou talvez não. :)
Só se pode compreender depois de "espiar" todo o lado do contra, digo compreender se quisermos fundamentos, senão basta a fé.
Eu estive e estou constantemente a arranjar todo o tipo de argumentos para o contrário e é assim que chego mais perto do que acredito, pela razão - é ela que tb me fortalece a fé. Giro não é? ;)
Cada um tem o seu "método" se se interessa em saber mais qq coisa, mas para mim a fé só por si era pouco. Fui ler os meus teólogos racionalistas e olha que são um mundo de surpresas.
bjitos

Anónimo disse...

certamente o meu comentário foi precipitado demais... tens razão ao dizer que a fé não chega... é preciso uma base mais sólida... mas não tenho a pretensão de conhecer tudo ou testemunhar tudo com a opinião do quem quer que seja, por vezes basta deliciar-me com as coisas...

beijo grande

RD disse...

Não Vitor, não foi precipitado! Digo apenas que cada um sente as coisas à sua maneira. A mim não me bastava a fé, não que não acreditasse ou acredite, mas porque tenho aquela coisa do bichinho da curiosidade. Gosto de explicações racionais.
Mas nunca diria que a fé por si só não é suficiente, há quem a tenha e se baste. Há quem, tal como tu goste de sentir só e deliciar-se, o que acho optimo. Eu nas minhas ânsias de procurar respostas posso também perder comtemplação. Tudo é uma faca de dois gumes. Temos é que aprender por nós o equilíbrio justo a cada um.
Bjitos migo!

Anónimo disse...

percebo-te rosita ;)... tb tenho o defeito de procurar explicação para tudo mas sabes, cansei-me, há imensa coisa sem explicação... às vezes basta sentir... e sentindo acabas por compreender se não com a razão, com o coração....

beijo