sábado, dezembro 04, 2004

Stº Agostinho, Sobre a Felicidade

A este pensador atribui-se a expressão de “filosofia cristã” pois foi quem se preocupou em fundamentar e explicar a religião cristã através da dimensão filosófica, dando-lhe assim mais credibilidade e consistência, visto que a religião estava a dar os seus primeiros passos na altura em questão.
Deslocando o tema da felicidade para o da ontologia, e em virtude da dinâmica hetero-ôntica que a trindade reflecte e funda, Agostinho transformou o tema da felicidade num estudo sobre o amor e o desejo, sua fenoménica dimensão. “Gozar da verdade de Deus” é o fim real deste desejo, a afirmação da sua possibilidade que nos leva ao desejo humano da divinização. É aqui que entra a filosofia para Agostinho, é a expressão desse sentimento no campo explicativo e compreensivo, e que não tem tão melhor acesso noutra linguagem que na filosófica.

Tanto o corpo pode adoecer sem comida como a alma sem conhecimento, é ao que chamam de esterilidade ou fome das almas ao contrário de frugalidade que é a virtude.
A propósito de ser feliz, não o é quem não tem o que quer, mas também não pode ser feliz quem tem tudo o que quer. Para se ser feliz, tem que se ter coisas permanentes e não caducas ou mortais porque elas não podem ser por nós possuídas quando queremos ou durante quanto tempo queremos. Tudo o que depende de circunstâncias do acaso perde-se, logo, quem as ama e possui não pode ser feliz.
A ignorância é a posse do não ter, do nada possuir de sabedoria e a felicidade consiste na sabedoria, por sua vez, esta é a moderação da alma. Então, a sabedoria é a medida da alma, ser feliz é ser sábio que é aquele que não é indigente.

“Quem portanto chegar á suprema medida pela verdade, é feliz. Isto é que significa para a alma possuir Deus, ou seja, gozar de Deus, e no entanto enquanto procuramos ainda não alcançamos a fonte e, para me servir da palavra de há pouco, não nos saciamos com toda a plenitude, ainda não alcançámos a nossa medida. E de igual modo, mesmo que Deus nos ajude, ainda não somos sábios nem felizes. Assim, a plena saciedade das almas, a vida feliz, consiste em conhecer com perfeita piedade quem nos guia para a verdade, que verdade fruir, e através de quê nos unimos com a suprema medida. Banidas as várias superstições da vaidade, estas 3 coisas revelam-nos a compreensão de um só Deus e de uma só substância.”
In Diálogo sobre a felicidade, cap. IV

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