quarta-feira, outubro 19, 2005

A lógica, ciência formal

A lógica é formal: trata da forma dos raciocínios, independentemente do seu conteúdo ou dos objectos aos quais se referem. É então necessário distinguir a validade formal de um raciocínio da verdade «material» das proposições que o constituem.
Seja, por exemplo, o seguinte raciocínio: «Todos os tubarões são pássaros; o meu peixe vermelho é um tubarão; então o meu peixe vermelho é um pássaro». Nenhuma destas três proposições é verdadeira «materialmente», ou seja, está em conformidade com a realidade; mas o encadeamento que as une umas ás outras é, na forma, válido: a terceira proposição é a consequência necessária das duas primeiras. Inversamente, um raciocínio como: «Todos os bretões são europeus; todos os franceses são europeus; todos os bretões são franceses» é constituído por três proposições, cada uma delas verdadeira «materialmente», mas que são ligadas por uma inferência não válida (de os franceses e os bretões são europeus, não se pode concluir que os bretões são franceses).
Para melhor salientar o aspecto formal dos raciocínios, é preferível enunciá-los sob uma forma hipotética («Se todos os tubarões são pássaros...»): isto significa claramente que não nos pronunciamos sobre a verdade de cada proposição, mas unicamente sobre a validade da conclusão.
Um outro meio, ainda mais claro, é o de substituir os termos das proposições («pássaros», «tubarões», «franceses», etc.) pelas variáveis, ou seja, por letras simbólicas (a, b, c...) que podem receber qualquer significado. Falaremos, então, menos de «proposição» do que de «forma proposicional». As variáveis designam os espaços vazios que podem ser preenchidos por um qualquer conteúdo. Teremos então descoberto "um modelo de raciocínio, que dará origem a um raciocínio logo que se considere uma matéria. Mas qualquer que seja a matéria o raciocínio será bom, porque a sua validade depende apenas do modelo que se mantém invariante" (R. Blanché, Introduction à logique contemporaine).
A lógica parece então oferecer a possibilidade de construção dos encadeamentos válidos não apenas com proposições falsas, mas mesmo com frases que não querem dizer nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quais são, a teu ver, as raizes ontologicas da logica? Ou seja, qual é a relação da lôgica com a existencia??? Z

RD disse...

duma forma simplória e aqui para nós que ninguém nos lê, a lógica serve-me de instrumento para entender as partes.
isto não querendo dizer obviamente que me fique por aí.
o todo supera sempre as partes, mas para entendê-las temos que nos disciplinar senão é um mix de desentendimento que nunca mais se chega a lado nenhum.
acho que por ter uma sensibilidade apurada ou uma supra-consciência levada do caneco, tive mais necessidade de «trabalhar» a razão e esta define-se com o exercício lógico, penso eu.
a minha relação ôntico-lógica é esta, de clarificação da realidade.
e a sua?