quarta-feira, outubro 19, 2005

As tautologias

Como a inferência é sempre verdadeira, quaisquer que sejam os valores de verdade atribuídos às proposições, chamar-se-á tautologia. Seja por exemplo o seguinte raciocínio: «Se o Pedro ama a Maria; o Paulo é solteiro; ora Paulo não é solteiro; então o Pedro não ama a Maria»: que, no mundo real, Pedro ame ou não a Maria, que Paulo seja ou não solteiro, o cálculo será sempre válido. Será o mesmo, independentemente do sentido dado a «Pedro», «Maria», «ama», «solteiro», etc.
Vazias de qualquer conteúdo, as tautologias não são de todo desprovidas de utilidade. Constituem pelo contrário as leis lógicas na base das quais operam as regras do cálculo. Mais geralmente, formulam os princípios lógicos que permitem raciocinar correctamente e justificar a correcção dos nossos raciocínios.

15 comentários:

Anónimo disse...

a inferencia corroborada é sempre verdadeira...ou não? Não compreendi mt bem o que queres dizer com isto:

"Como a inferência é sempre verdadeira, quaisquer que sejam os valores de verdade atribuídos às proposições, chamar-se-á tautologia."

por favor explica-me isto...Z

RD disse...

uma tautologia ou uma fórmula logicamente válida é uma fórmula que possui apenas o valor V na sua tabela de verdade.
e isto pq? pq uma inferência é uma frase simples, é uma proposição, uma afirmação e não um silogismo ou raciocínio, certo?

Anónimo disse...

Tenho alguma dificuldade, talvez por não ser um grande estudioso de lôgica em compreender a pretensão de desconexar valores de verdade, ou de correspondencia entre props e "realidade". O conceito de verdade, tanto quanto consigo perceber, obriga-nos a considerar a dimensão empirica, ou seja, nãoi existem, de facto raciocinios simples destituidos de realidade. Bem sei que a posição que defendes é legitima e reconhecida como tal na academia. A inferencia formal, como é evidente, pode ser teoricamente verdadeira. Bem, podemos afirmar que existem várias dimensões ontológicas da verdade.

Beijins, (sou apenas um curioso da filosofia, a minha area de investigação é a filosofia politica e filosofia "continental."..nunca fui grande barra em lôgica) Z

RD disse...

parece estranho que hajam estas separações, mas no fundo o que são termos? meras convenções para que nos possamos entender... ainda mais num mundo como o nosso que está cada vez mais perto e relativizado.
o que faz que uma proposição seja inteligível é a organização desses termos e esta deixa de ser uma inferência simples quando passa a um raciocínio ou a um juízo, se quisermos.
diz-se que é «verdade» quando é uma afirmação simples e sem juízo, meramente formal e sem conteúdo, tal como a linguagem de programação dos computadores, a lógica binária.
mas a linguagem não é tudo não senhor, há mais formas de comunicação.

eu aqui não digo o que defendo Ezequiel, limito-me a dar perspectivas para que cada um caminhe por onde achar melhor.
só defendo qd me perguntam e se souber responder, senão não é importante que eu faça defesas. nunca achei que fosse importante convencer alguém, prefiro que se tenha conhecimento do que existe para lá do que temos entre orelhas.

eu tb sou mais da «continental» a «analitica» é pa grandes cabeçudos.
eu sou das bioéticas.

Anónimo disse...

Sim, concordo, o que faz com que uma proposição seja inteligivel é a organização consistente dos termos que a compoem (apesar de Wittgenstein ter se oposto a esta concepção Russeliana (logical atomism)da linguagem. No entanto, a inteligibilidade é uma coisa e a verdade é outra, tanto quanto consigo perceber. No exemplo que dás o tudo depende do facto do Pedro amar a Maria e o "se" estabelece esta relação de causalidade deductiva. (a não ser obviamente que o exemplo fosse um mera hipotese formal que, nestes casos, costumam ser representados por um x ou y (tanto quanto sei). Ensinaram-me que a logica examina 1) consistencia e validade interna de inferencias, deduções (etc) em proposiçoes e discurso e 2) a relação das proposiçoes etc com o mundo, ou seja, a relação da veracidade. Por isso, concordo contigo quando dizer que "o que faz que uma proposição seja inteligível é a organização desses termos e esta deixa de ser uma inferência simples quando passa a um raciocínio ou a um juízo, se quisermos."
Mas não concordo contigo quando defendes: "«verdade» quando é uma afirmação simples e sem juízo, meramente formal e sem conteúdo, tal como a linguagem de programação dos computadores, a lógica." Na minha opinião, podemos falar aqui de validade, de consistencia, de plausibilidade ou, quanto muito, de raciocinios formais válidos, mas NÃO de verdade pq o conceito de verdade parece ter uma componente empirica (exterior ao raciocinio ou elaboração formal) incontornavel. A verdade tem sempre um conteúdo proposicional ou experiencial. Mas, ok, acho que percebo como é que podes chamar verdade a uma "afirmação simples." A tua filosofia pedagógica é admiravel. Não poderia concordar mais. É sempre mais interessante descobrir do que afirmar. Politiquices filosoficas irritam-me pelo menos tanto como as politiquices da politica eh eh eh ehe eh e. Pois, cara Rosa, de Bioética é que não percebo NADA. Escreve uns posts sobre bioética!!!!!!! eZequiel

Anónimo disse...

correção: um conteúdo referencial (sorry)Z

RD disse...

Ezequiel, só te vejo a escrever tanto quando é para desancar alguém por aí nos blogs e sempre num tom que dá medo ao susto.
Obrigado pela paciência e interesse. Sempre que sei que passa cá alguém fico satisfeita.
Vou ver se «posto» qualquer coisa de bioética sim. :)
Quanto à lógica, havemos de esmiuçar melhor em outra oportunidade. *

Anónimo disse...

de bioética todos percebemos um bocadinho.

a bioética é a necessidade de uma reflexão acerca do modo de agir e do comportamento em relação a uma vida que é artificializável, já que o progresso tecnológico deu ao homem poderes, até então, impensáveis sobre a vida.
nesta reflexão há um cruzamento de imensas áreas.
uma interdisciplinariedade que não se quer estática, dverá ser sempre solidária e honesta, neutra e nobre já que o fim ultimo é sempre a dignidade humana.
tratamos variadas áreas como a medicina, a politica, o ambiente, as ciencias da educação, a economia, o direito... etc.
de momento ando mais de roda do ambiente, por razões de trabalho, se bem que tenho curiosidade em todas as áreas.

na área do Ezequiel, a política, há um todo por explorar.
já que a ciência política trata do poder, deixo no ar, até que ponto pode e deve ir esse poder?

Anónimo disse...

Cara Rosa,

eu raramente tento desancar alguém e, realmente, tenho um tom rude (para não dizer outra coisa) mas isto talvez tenha mais a ver com os meus fracos dotes literários, com a minha impulsividade infantil, do que com qualquer intenção de desancar. Life is too short to lie. Mas percebo muito bem o que queres dizer. Será um prazer continuar a visitar o teu blog. Quanto á questão do poder e da ciencia politica, levantas a mais interessante das perguntas, uma pergunta que ainda não obteve resposta na filosofia (e incluo os gregoides na lista). O poder da verdade e da persuasão. O poder da expressão. O poder da beleza. O poder bruto da força. O poder da comunicação. O poder da vontade etc etc. Como poder ver, o poder é quase uma estrutura ontológica, como afirmou Nietzsche. Mas, de certa forma, ver poder em tudo, faz com que o mundo fique feio. Não faço a minima ideia. Beijins, Z

Anónimo disse...

(correlão) mas, realmente...

Anónimo disse...

bolas, correção: Correção :)

Anónimo disse...

:) também não tenho veia poética nem jeito para floreados. tb nunca me fez falta.

isso do poder é bonito. muito interessante.
estamos a falar de poder instituído ou de poder "natural"?
por poder natural entendo não algo inato mas um saber competente, prático.
algo parecido com o vitalismo de nietzsche misturado com a sabedoria enciclopédica.
skills (acho que é assim), ok? :)

Anónimo disse...

...porque se for o instituido, o da ciÊncia política, estamos a entrar em práticas típicas da actividade, certo?
e como se regula este poder? na política não há códigos deontológicos.
já me estou a perder, não sei colocar a pergunta. sorry.

em abstracto percebo que ainda não se tenham encontrado fórmulas para o poder mais correcto. não é fácil. deveria dar em algo como maquiavel a ir à missa com o stuart mill ouvir são tomás de aquino. heheheh.
bjinhos :)

Anónimo disse...

"deveria dar em algo como maquiavel a ir à missa com o stuart mill ouvir são tomás de aquino"

eh ehe heh eh ehe eh he...(Rosa, nada como um bom sentido de humor!)

A veia poética já me fez falta...por vezes um nadinha de tacto e subtileza faz falta! Paciencia!

Quanto á questão do poder, acho que não te estás a perder. Estás a explorar a multiplicidade desta "coisa" complexa, o poder...


Gostei da piada. Maquiavel provavelmente acabaria por ouvir bvreak beat ou hip hop eh eh eh eh ehehe (com J S Mill a acompanha-lo, timidamente, mas deslumbrado) eh eh ehehhe ehe

beijins Rosa! You´re a kool Lady!

RD disse...

:)

hip hop com as vestimentas da época... hehehe

bjins e bom feriado.