Sendo a ética o estudo ou a procura da fundamentação do agir humano, consciente e racional, não será ela também tranquilizadora da nossa existência? Como explicar a angústia da escolha ética em contraposição às nossas paixões?
Essa escolha, sendo sempre ética, e portanto consciente, age por vezes contra nós mesmo sendo a curto prazo apenas. Será, por sabermos que é o melhor que fazemos na altura, mesmo que nos cause angústia na escolha e desespero na consequência?
Dando importância à nossa ética pessoal, não acabaremos por viver num constante passado, imaginando um futuro, que não passa por um presente espontâneo? Sem considerarmos os acasos e as paixões presentes, caímos num viver predefinido e adquirido por outras verdades, que podem já não ser as nossas. A nossa transcendência transcende-nos? É como se, por vezes, nos víssemos de fora, como uma alma a pairar sobre o corpo, a agir friamente (no sentido mecânico), só porque sabemos que é bem assim. Não é um acto moral de acordo com o que nos é “devido”, é um agir profundamente enraizado, que nos “impele” a tomar decisões boas, porque o sabemos pela experiência ou simplesmente pelos sentidos. Ética das virtudes vs ética do dever…
Sendo nós próprios o resultado das nossas escolhas e acções e considerando um devir contínuo, será possível cairmos em escolhas éticas tão profundas e intrínsecas à nossa personalidade que não nos possibilitem uma adaptação a mudanças exteriores?
Assim sendo, a médio/longo prazo, obteremos a recompensa pessoal pelo ter agido bem de acordo com os nossos padrões de valores, mas o facto, é que a curto prazo, qualquer escolha que “pise” ou não vá de encontro à nossa ética, nos leve a um estado de confusão e talvez angústia que nos faça repensar toda a nossa estrutura e em que base de valores está assente.
No nosso mundo de hoje, há uma grande crise de valores com que nos temos que deparar constantemente e interrogarmo-nos se agimos bem (porque já não sabemos o que é sequer o bem), quais os nossos fundamentos, ponderá-los e integrá-los na nossa realidade, em prol de um bem comum, porque no fundo, o bem pessoal implica o bem comum e vice-versa.
Toda uma globalização a que se tem vindo a assistir, não pode ser mais a desculpa contínua para o homem se sentir perdido, quando é ele próprio o seu construtor e responsável por si e respectivamente responsável pelos outros.
Mesmo sabendo que a angústia da escolha pertence à condição humana, ela não é mais do que uma passagem ao descobrir-se e ao fazer-se do homem, ao seu pro-jecto. Diria ainda, que necessária, como forma de interiorização e união do seu ser-agir com a sua essência, só assim se pode chegar a uma coerência e congruência que dê descanso e vá de encontro à realização do homem.
Assim, arrisco ter a presunção de acreditar que poderemos encontrar na pessoa, a fonte de salvação para a verdadeira humanidade, entretanto perdida ou desacreditada. Só a fé em nós próprios, consegue dar respostas para um novo começo que traga conforto.
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