A filosofia começa onde as coisas já não são claras, onde o que para todos era evidente e deixa de o ser.
A filosofia é no fundo a interrogação, o pôr em causa o que sabemos ou julgamos saber.
Como se caracteriza o questionar? Em primeiro lugar, é total, pode-se filosofar sobre tudo. Em rigor, nenhum domínio escapa à interrogação filosófica e é isso que legitima a filosofia e lhe dá a vertente de verdadeira educação.
Depois é radical, no sentido de que vai ao fundo das coisas. Assim, cada um se interroga e a filosofia responde sobre o que mereça ser questionado. Não busca os meios mais seguros e mais eficazes, interroga-se sobre quais são os fins da educação. Interessa saber quais são os fins da educação, quais os seus objectivos e quais as suas vantagens e é por isso que o questionamento filosófico também é vital, no sentido de que aquilo que o suscita não é um interesse puramente especulativo.
Para filosofar é preciso ir à escola dos filósofos, recordando, todavia, que uma escola é um lugar de onde se deve sair, uma instituição cujo fim verdadeiro não é apenas aprender tal ou tal verdade, mas aprender a pensar.
“Não se aprende a filosofia, aprende-se unicamente a filosofar” – diz Kant, e num contexto kantiano, nitidamente perceptível em diferentes escritos seus, o sentido da máxima é muito claro e não vai propriamente na direcção em que alguns subsequentemente o trataram de interpretar. Para Kant, não se pode ensinar filosofia, mas a filosofar, por um lado, porque ainda ninguém está integralmente de posse dela; daí a pergunta que a seu respeito se faz na Crítica da Razão Pura: “Onde está ela, quem a tem na sua posse e em que se faz ela conhecer?”
A filosofia como sistema de conhecimentos filosóficos, é ainda, segundo Kant, “uma ideia a realizar”.
Por outro lado, não se pode ensinar filosofia mas a filosofar, fundamentalmente porque há que incrementar o pensar por si próprio. Há que fazer um uso próprio da razão, e não meramente histórico ou mecânico.
Em primeiro lugar, trata-se de lembrar que, sem ensino, não há filosofia como instituição cultural. Em segundo, de sublinhar que a filosofia é por constituição e tendencionalidade, comunicável. Em terceiro, que o ensino, da filosofia não é (nem nunca foi, nas suas diferentes figuras) magistério em abstracto; origina-se e desenvolve-se num concreto histórico-social de tradições, existências e de esperanças. Sem ensino, não há filosofia como instituição cultural.
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