sábado, dezembro 04, 2004

Breve história das ideias morais

A história das ideias morais é muito mais antiga do que a formação da ética como disciplina.
Com o processo de hominização, o homem foi-se libertando dos instintos naturais e sendo cada vez mais dono das suas acções. O meio deixa de o condicionar e ele próprio pondera as suas escolhas, a natureza já não determina a sua forma de agir.
Isto significa que o homem sempre pensou sobre a sua acção e o que seria melhor ou pior para si. A acção é irredutível e a história das ideias morais é tão antiga quanto o próprio homem, mas a ética só se constituiu como disciplina com Aristóteles, porque uma ciência precisa de objecto e método. O objecto da ética é a praxis – acção imanente do agir humano, uma acção cujo resultado é interior e constitui o carácter do agente.
O método filosófico é analítico e crítico e aplica-se à praxis.
Estudo da racionalidade do agir, do encadeamento lógico das nossas acções, a nível de fundamentação e normatividade.
A racionalidade da acção é um processo interno que origina um encadeamento de acções pela qual nos damos a conhecer e nos forma o carácter. Existem várias lógicas da acção consoante a ética da virtude ou ética do dever. Há quem aja de acordo com o dever, que pondere as suas acções enquanto que pela ética das virtudes, o carácter responde naturalmente pelo bem.

A constituição da ordem ética é saber como ordenamos os actos na nossa vida, a ordem das coisas altera o fim que se quer. Não basta ter determinados ingredientes, há que saber misturá-los.

1) A ética na Antiguidade
Era uma ética da felicidade cujo fim era o bem. Toda a acção estava dirigida para a felicidade.
Toda a moral de Aristóteles está virada para a felicidade, não pode haver ou pensar-se moralidade sem qualquer um destes elementos.
O homem é perfectível e não nasce já feito, constrói-se, faz-se.

2) Na Idade Média
Juntamos aos ingredientes de cima – Deus
Deus passa a ser o bem, o fim, a virtude e a felicidade. Deus é o caminho moral supremo, é o elemento para o qual tudo se dirige.
Para o Cristão da idade média, ser moral é aproximar-se de Deus.
Cada momento histórico trouxe diferentes ingredientes que assimilamos e perpetuamos ao longo dos tempos.
Há somas de moralismos que herdamos e os critérios a que nos recorremos estão fundamentados ainda por essa história das ideias.

3) Modernidade
Advento da razão, valorização da razão.
Necessidade de nos conduzirmos moralmente de acordo com a razão.
Já com Aristóteles encontramos a exigência da racionalidade mas com Kant intensifica-se.
Surge a noção de liberdade. Surge com a causalidade do sujeito que age. A liberdade do homem é a causa do seu agir.
É uma noção nova, antes com Aristóteles havia a deliberação, com a medievalidade temos a valorização da vontade relacionada com o livre-arbítrio. Agora a liberdade é que é a indeterminação do agir e princípio e causa da acção do homem.
O sujeito é causa e princípio da sua acção se for livre. Em Sartre, a liberdade é condição do homem, não pode deixar de ser livre nunca.
Em Kant, a liberdade é condição da vida moral, não é ontológica mas uma realidade ética.
Não há moralidade sem liberdade, é condição da moralidade.
Em Aristóteles o homem só podia dizer se a sua acção seria virtuosa (boa) ou não, não tinha elementos para falar em liberdade, condição da moralidade.

4) Contemporaneidade
Na contemporaneidade, os críticos de Kant falam numa liberdade-moralidade situada no espaço e no tempo. A realidade é dinâmica e situa-se no espaço, os padrões morais não são sempre os mesmos, variam de povo para povo e ao universalismo ético de Kant sucede-se o relativismo moral.

Conclusão:
- Bem, universal grego
- Deus, universal medieval
- Razão, universal moderno
- Várias morais, relativismo contemporâneo

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