A revolta è uma das únicas posições filosóficas coerentes, è um confronto perpétuo do homem e da sua própria obscuridade. È a exigência de uma impossível transparência, equaciona o problema do mundo a cada segundo. Tal como o perigo fornece ao homem possibilidades insubstituíveis de tomada de consciência, assim a revolta metafísica dilata a consciência ao longo da experiência. È a presença constante do homem em si próprio, não è aspiração pois è sem esperança. Esta revolta não passa da certeza de um destino esmagador, mas sem a resignação que devia acompanhá-la.
Aqui se vê a que ponto a experiência absurda se afasta do suicídio, pode-se crer que o suicídio segue a revolta mas erradamente, porque ele não representa a sua lógica conclusão, è exactamente o contrário, pelo consentimento que supõe.
O contrário do suicida è precisamente o condenado à morte, essa revolta dá à vida o seu preço abrangendo todo o comprimento de uma existência, restitui-lhe a sua grandeza. Não há espectáculo mais belo para um homem sem caprichos que o da inteligência em conflito com uma realidade que ultrapassa o seu entendimento, este espectáculo sobre o orgulho humano é inigualável, nem há depreciações que o afectem.
Consciência e revolta, estas recusas são o contrário da renúncia. Tudo o que há de irredutível e de apaixonado num coração humano anima-se pelo contrário, com a sua vida. Trata-se de morrer irreconciliado e não de bom grado. O suicídio è um desconhecimento, o homem absurdo tem de esgotar tudo e esgotar-se.
O absurdo è a sua tenção mais extrema, a que ele mantém constantemente com um esforço solitário, porque sabe que nessa consciência e nessa revolta do dia-a-dia testemunha a sua única verdade, que è o desafio.
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