segunda-feira, janeiro 16, 2006

Mitos e Razões

"Uma vez que a lógica não é apenas argumento válido, mas também reflexão sobre os princípios da validade, esta só aparecerá naturalmente quando já existe à disposição um corpo considerável de inferências ou argumentos. A investigação lógica, a de pura narrativa, não é suscitada por qualquer tipo de linguagem. A linguagem literária não fornece material suficiente de argumentos e inferências. As investigações em que se pretende ou procura uma demonstração é que naturalmente dão origem à reflexão lógica, uma vez que demonstrar uma proposição é inferi-la validamente de premissas verdadeiras. Há duas condições para a demonstração, as premissas verdadeiras e os argumentos válidos.
Do ponto de vista lógico, a distinção importante é que a premissa demonstrativa é verdadeira e necessária enquanto a dialéctica não o é necessariamente. Na demonstração começamos com premissas verdadeiras e chegamos necessariamente a uma conclusão verdadeira, por outras palavras, temos uma demonstração. No argumento dialéctico, pelo contrário, não se sabe se as premissas são verdadeiras e não é necessariamente que a conclusão é verdadeira. Se nos aproximamos da verdade dialéctica é por via indirecta.
Existem 3 tipos diferentes de linguagem nas quais se procura ou se exige demonstração. Na matemática pura pretende-se demonstrar verdades abstractas e a priori, em metafísica pretende-se demonstrar proposições muito gerais sobre a estrutura do universo e, na linguagem de todos os dias, especialmente na linguagem política e jurídica, procura-se demonstrações de proposições contingentes."

William Kneale & Martha Kneale - O Desenvolvimento da Lógica (Gulbenkian)


"O mito surge-nos, deste modo, como uma conversão simbólica de atitudes e crenças próprias da consciência comum e/ou do imaginário social efectivo – conversão esta que se processa através de relatos orais colectivamente elaborados e aceites, e que propende, por vezes, a uma justificação a posteriori dos ritos e da própria ordem sócio-cultural vigente, e, de um modo mais geral, a dar (ou antecipar), resposta a inquietações comunitárias frequentemente ainda não formuladas, a respeito dos diversos níveis da condição humana e da sua inserção na ordem cósmica."

Francisco Sardo - Logos e Racionalidade (Casa da Moeda)

Sem comentários: