[Interrogado sobre o que havia aprendido com a Filosofia, disse: "A fazer, sem ser comandado, aquilo que os outros fazem apenas por medo da lei"]
in Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos, Aristóteles
quinta-feira, junho 09, 2005
!
"It requires a very unusual mind to undertake the analysis of the obvious."
Whitehead
13 comentários:
Anónimo
disse...
Assino por baixo.
Sem querer entrar em explicações fisio-filosóficas, eis o que penso:
1 -O óbvio nunca foi tão clarividente como o pintam. É uma palavra perigosa de usar. Nada pior do que brandir "é óbvio que..." para depois ter como resposta "olhe que não, olhe que não". Afinal, não é tão óbvio assim.
2 -Nem esse aforisma contradiz a etimologia da palavra "óbvio" (lat. "obviu", que ocorre, que está adiante, evidente, intuitivo, fácil de compreender). Em suma, é preciso uma mente muito pouco usual para empreender a análise do óbvio.
Descobrir o difícil é fácil. Difícil é facilitá-lo.
o Siza tem um livrinho muito interessante chamado "Imaginar a Evidência", onde explora exactamente essa questão do óbvio... diz-nos que o melhor edifício é aquele que é "óbvio" nesse lugar. Acho, e concordo com ele nesse aspecto, que essa deveria ser a principal tarefa do arquitecto, desenhar edifícios que à partida fossem obvios naqueles lugares. não imaginam o quanto fazê-lo é difícil, não sei se uma vida inteira chegará para desenhar o óbvio. melhor, talvez saibam o quanto é difícil, porque definir o obvio não será, por certo, tarefa leve. o Siza conseguiu fazê-lo com 25 anos na casa de chá da Boa Nova, mas duvido que depois disso o tenha feito noutro projecto qualquer (apesar da qualidade inquestionável das suas obras)... a ver vamos
É melhor explicar um pouco do que quis dizer com Merleau-Ponty. Whitehead era um lógico, daqueles que eu admiro mais porque se preocupava com o todo e não com partes, preocupava-se em aplicar a lógica a todo o conhecimento em geral. Como diz o Carlos, ele tentou superar o materialismo e o idealismo, as dualidades presentes que se traduzem na divisão do espírito/matéria, corpo/alma, substancia/acidente... etc. Mencionei Merleau-Ponty a respeito da "experiência" de Whitehead. Este filósofo - MP, diz-nos que antes de entrarmos em quaisquer distinções deveremos regressar à experiência originária, ao antes de tudo que se dá no momento do toque, ou da admiração perante algo novo. exemplo: ao tocarmos numa mesa sentimo-la mas estamos a sentirmo-nos também ao mesmo tempo. Não há qualquer toque isolado do eu ou análise da coisa em si. Há uma "reversibilidade" que se entende pela experiência original.
Há uma percepção e uma relação entre os objectos. ;)
13 comentários:
Assino por baixo.
Sem querer entrar em explicações fisio-filosóficas, eis o que penso:
1 -O óbvio nunca foi tão clarividente como o pintam. É uma palavra perigosa de usar. Nada pior do que brandir "é óbvio que..." para depois ter como resposta "olhe que não, olhe que não".
Afinal, não é tão óbvio assim.
2 -Nem esse aforisma contradiz a etimologia da palavra "óbvio" (lat. "obviu", que ocorre, que está adiante, evidente, intuitivo, fácil de compreender).
Em suma, é preciso uma mente muito pouco usual para empreender a análise do óbvio.
Descobrir o difícil é fácil. Difícil é facilitá-lo.
Sempre foi.
o Siza tem um livrinho muito interessante chamado "Imaginar a Evidência", onde explora exactamente essa questão do óbvio... diz-nos que o melhor edifício é aquele que é "óbvio" nesse lugar. Acho, e concordo com ele nesse aspecto, que essa deveria ser a principal tarefa do arquitecto, desenhar edifícios que à partida fossem obvios naqueles lugares. não imaginam o quanto fazê-lo é difícil, não sei se uma vida inteira chegará para desenhar o óbvio. melhor, talvez saibam o quanto é difícil, porque definir o obvio não será, por certo, tarefa leve. o Siza conseguiu fazê-lo com 25 anos na casa de chá da Boa Nova, mas duvido que depois disso o tenha feito noutro projecto qualquer (apesar da qualidade inquestionável das suas obras)... a ver vamos
um beijo rosa
Os anglo-saxónicos não apreciam o uso da palavra "obviously". A alguma razão se deve essa diferença cultural...
aproxima-se de Merleau-Ponty na sua "experiência originária" - a superação de dualismos.
...entre outros. :)
anónimo, bem vindo.
É melhor explicar um pouco do que quis dizer com Merleau-Ponty.
Whitehead era um lógico, daqueles que eu admiro mais porque se preocupava com o todo e não com partes, preocupava-se em aplicar a lógica a todo o conhecimento em geral. Como diz o Carlos, ele tentou superar o materialismo e o idealismo, as dualidades presentes que se traduzem na divisão do espírito/matéria, corpo/alma, substancia/acidente... etc. Mencionei Merleau-Ponty a respeito da "experiência" de Whitehead. Este filósofo - MP, diz-nos que antes de entrarmos em quaisquer distinções deveremos regressar à experiência originária, ao antes de tudo que se dá no momento do toque, ou da admiração perante algo novo.
exemplo: ao tocarmos numa mesa sentimo-la mas estamos a sentirmo-nos também ao mesmo tempo. Não há qualquer toque isolado do eu ou análise da coisa em si. Há uma "reversibilidade" que se entende pela experiência original.
Há uma percepção e uma relação entre os objectos. ;)
sim Caiê, os anglo-saxónicos são pragmáticos q.b., mas desconhecia que não gostassem da palavra.
o óbvio é para muitos a adequação entre o que percebemos e o que é. a correlação mais fiel possível.
continuo a achar que o óbvio é algo bastante difícil de descobrir, principalmente quando já estamos treinados a detectar o complicado.
obviamente que sim, ou nem por isso?!
é óbvio que o óbvio não é assim tão óbvio. ;)
tens uma pedra no sapato lá n'o POVO.... vinguei-me desta! hehehehe
Os blogs "Quarto com Vista sobre a cdade" e "O Melhor Blog do Mundo" dão lugar ao blog "A morte de Solvstäg" (http://solvstag.blogspot.com).
Vitor, amigo, desculpa lá, mas vou ter que passar esta. Obrigado pela lembrança na mesma. um beijinho.
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