sexta-feira, março 04, 2005

Manuel de Arriaga (n.08.07.1840-f.05.03.1917)

Amanhã comemora-se os 88 anos da morte de Manuel de Arriaga.
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira é o 1.º presidente constitucional da República Portuguesa (de 1911 a 1915);
Advogado distinto, poeta, escritor e antigo deputado.
N. na cidade da Horta, na ilha do Faial; era filho de D. Sebastião de Arriaga Brum da Silveira e de D. Maria Cristina de Arriaga Caldeira.
Matriculado no Universidade de Coimbra, na faculdade de direito, fez um curso brilhantíssimo, afirmando-se logo nas lições dos primeiros anos como tribuno, revelando as mais distintas qualidades oratórias a par de não menores qualidades de talento. Esta afirmação parte do segundo ano do curso, quando uma vez, como premiado, deu uma lição a respeito dos direitos do infante D. Miguel de Bragança, direitos que o jovem estudante, valendo-se de todos quantos argumentos pôde, combateu fortemente. Desde os primeiros anos da sua mocidade, habituou-se a um incessante e aturado trabalho, leccionando em Coimbra, conseguindo assim a muito custo, não só fazer a sua formatura, como ainda auxiliar seu irmão mais novo até ao 3.º ou 4.º ano. Terminando o curso, o Dr. Manuel de Arriaga veio para Lisboa e abriu banca de advogado, e, com a fama que já o acompanhava, facilmente se tornou bem conhecido pelas causas de que se encarregava com a maior felicidade, sendo considerado como um dos melhores advogados de Lisboa. A sua fama de tribuno também se tinha acentuado de forma que a cidade do Porto o mandou convidar para orar num comício, ao que ele acedeu, sendo na cidade invicta o alvo das mais vivas demonstrações de simpatia. O Dr. Manuel de Arriaga apresentou-se num concurso para a 10.ª cadeira da Escola Politécnica, e publicou em 1866 a sua dissertação: Sobre a unidade da familia humana debaixo do ponto de vista economico. Fez concurso também para uma cadeira de história no actual Curso Superior de Letras, mas foi preterido por outro candidato. Durante alguns anos regeu a cadeira de inglês no Liceu de Lisboa, onde exerceu com distinção várias comissões; foi um dos vogais da comissão criada por decreto de 26 de Agosto de 1876, para a reformada instrução secundária, e o seu projecto ficou aprovado na generalidade pelo conselho do liceu; está inserto na colecção de respostas mandada publicar pelo governo no ano de 1877.
Ao congresso jurídico reunido em 1889, celebrando as suas sessões plenárias na sala da biblioteca da Academia Real das Ciências, apresentou o relatório de que fora relator: These – O systema penitenciario, quando exclusivo e unico, abrangerá os phenomenos mais importantes da criminalidade, e não os abrangendo, converter-se-ha, numa instituição contraproducente e nefasta? O relatório foi publicado nesse referido ano.
O Dr. Manuel de Arriaga pertenceu ao partido republicano, a que prestou os mais relevantes serviços. Foi um dos seus propagandistas mais entusiastas e eloquentes, e por diversas vezes tendo sido eleito deputado. Os seus discursos foram notáveis, não só pelo brilho e elegância da forma, como pela grande elevação das ideias. Sendo eleito pela ilha da Madeira, advogou tão acertadamente os interesses daquele círculo, que os madeirenses declararam que havia muitos anos não tinham tido em cortes representante mais desinteressado e dedicado. Escreveu muitas poesias apreciáveis, estando umas publicadas e outras ainda inéditas. Também escreveu uma dissertação sobre a necessidade da intervenção das ciências naturais na história universal dos povos para assentá-la em bases positivas e dar-lhe um carácter verdadeiramente científico, a qual foi publicada em 1878.
A política e a advocacia distraíram-no da sua grande vocação para as letras. Não houve um só clube, uma só associação democrática, em que o Dr. Manuel de Arriaga não tenha orado nas suas sessões, sendo sempre escutado com o maior interesse. Também está publicado o discurso que o distinto orador proferiu na câmara dos deputados, na sessão de 23 de Junho de 1890, sobre a questão inglesa.

Obras Principais:
Distinguiu-se principalmente como advogado e orador. Alguns dos discursos políticos ficaram célebres, nomeadamente "O Partido Republicano e o Congresso", pronunciado no Clube Henriques Nogueira em 11 de Dezembro de 1887, "A Questão da Lunda", na Câmara dos Deputados em 1891, "Descaracterização da Nacionalidade Portuguesa no regime monárquico", em 1892, na mesma Câmara, "Começo de liquidação final", "A irresponsabilidade do poder executivo no regime monárquico liberal", e tantos outros. Contos Sagrados, Irradiações e Harmonia Social, constituem exemplos da sua obra como filósofo e poeta.
A experiência como Presidente da República é-nos contada na sua última obra, escrita após a experiência presidencial, intitulada Na Primeira Presidência da República Portuguesa.

6 comentários:

RD disse...

Ironicamente ou não, aqui se mistura a educação e a advocacia, é do Faial, estudou em Coimbra, andou pela Madeira... hehe. E fez um bom trabalho. É isto é que é preciso.

Anónimo disse...

Alvíssaras pela oportunidade do post.

Anónimo disse...

E já que estamos numa de antigos presidentes da república,faz nove anos, precisamente a 04 de Março, que Mário Soares recebeu o Grande Colar da Ordem Militar da Torre e da Espada.

Diciopédia Porto Editora dixit.

Sobre os casos em que tal condecoração pode ser atribuída, vejam em http://www.presidenciarepublica.pt/pt/presidente/papel/cordens/.

Anónimo disse...

Curiosamente, aluno de Direito - não tão brilhante como Arriaga - da Faculdade de Direito de Lisboa.

RD disse...

Obrigado pela sugestão e pela correcção. Daqui a pouco verei ;)

«« disse...

O artigo muito interessante sobre uma figura portuguesa que devia ser muito mais divulgada. Pena é que no nosso país só se fale do passado obscuro (ou então dos mesmos, apesar dos seus reconhecidos méritos), quando temos tanta gente boa. A este nome podiamos juntar outros, noutras áreas, tais como Delfim dos Santos (um dia disse que educar uma criança era "imundá-la" no sentido de dar-lhe o Mundo), Leonardo Coimbra, Eduardo de Souza, que os brasieliros bem conhecem, uma vez que teve que fugir dos nossos regimes...