Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influi no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo - o futuro.
Antero de Quental
in 'Prosas da Época de Coimbra'
18 comentários:
É verdade e devia ser levado em conta por quem se dedica a essa arte....muitas vezes escrevem sobre a sua própria arrogância...e admiram-se que exista muita gente que nem queira ver um livro á sua frente...
Concordo amigo Miguel.
Quando se iniciam leituras é uma sorte ir-se às correctas. Conheço vários casos assim, de aversão a livros, porque tiveram más experiências. Não acho que seja desculpa não se procurar outras, (e sem querer arranjar reforços para a minha opinião, mas é de senso comum que a leitura e a escrita desenvolvem), mas entendo.
Numa outra fase em que já sabemos selecionar temas, acho que essa arrogância de que me fala, é secundária. Digo-lhe isso porque há muitos filósofos pretenciosos mas não é por isso que perdem razão. Arrogâncias não me incomodam.
Sabe Miguel, a arrogância dos outros não deve incomodar porque o maior prejuízo dela é para o próprio. E se incomoda muito, é sinal que devemos rever a nossa personalidade, as nossas estruturas, as nossas escolhas, as nossas prioridades.
É importante que não permitamos que os outros nos "façam" a esse ponto.
Manter abertura sim, sempre e fundamentalmente, só desta forma crescemos tb com os outros, mas não apenas influenciados.
Uma pessoa muito influenciada dilúi-se no tudo e no nada. Desencontra-se de si mesma e o regresso é perigoso.
[Que se entenda que aqui a arrogância é tida como um sentimento de altivez que relega a importância do outro para um nível secundário, há uma inferiorização (senso comum), e não como o que a palavra em si diz. Arrogar significa atribuir a si mesmo qualidades que são doutros, fazer pertença de..., o que no fundo, bem esmiúçado, dá no mesmo.]
Bem fez a R.Dart em definir o conceito de arrogância.
Mas não confundir arrogância com disputa intelectual, penso que é isso que está implícito no último comentário da R. Dart.
Enfatizo esta distinção, pois normalmente há a tendência, muito frequente, de misturar as duas ideias.
O que até é algo compreensível: a disputa intelectual, o debate, a discussão, implica a apropriação - ou pelo menos a tentativa de apropriação - da razão ou do que é mais correcto, em detrimento da doutrina do nosso adversário.
Deve ser-se humilde, é certo. Mas a humildade, na minha opinião (e digo-o arrogantemente) é apenas consituída por dois requisitos: 1)saber ouvir, 2)saber reconhecer qualquer erro de raciocínio, ou mesmo a derrota da contenda.
O que só traz vantagens pois o que não nos mata, torna-nos ainda mais fortes.
Para além dessa humildade, vem já a subalternidade, algo que, manifestamente, não me seduz nada.
Voltando à arrogância.
Sim, de facto ela existe, mas não a vejo tanto em livros, mas mais em pessoas. Já li livros péssimos, sem qualquer conteúdo ou tendo-o, ele ser assim como execrável.
Mas não me choca nada ler um autor convicto das suas ideias. Por exemplo, Nietzsche (lá vem ele outra vez). Haverá autor mais arrogante do que ele? Provavelmente. Aliás, a maioria dos filósofos o são, como bem salientou a R Dart.
A escolha de bons ou maus livros pertence ao leitor mas, ao contrário do que se propala, "gostos discutem-se". Caso contrário, como evolui-los?
Arrogância literária? Sim...existe, principalmente nos indivíduos que não exergam a sua total inaptidão para a escrita, seja qual for o seu género. Mas aqui é fácil: basta não perdermos tempo com "sei lás".
Só se é arrogante quando não se é humilde (no sentido que escrevi).
Pelo que tenho algumas dificuldades em aceitar a arrogância ao nível do espírito, já não ao nível físico.
Quem sabe talvez toda esta amálgama de conceitos tão próximos, mas tão díspares, fosse facilmente resolvida se se lesse um pouco mais dos tais autores arrogantes.
Dixit.
Só mais uma arroganciazinha, e já me calo.
Presumo que a razão para as pessoas que não quererem ver um livro à sua frente, não é tanto a arrogância dos autores, mas outros fenómenos da nossa sociedade da informação:
- ou preferem ver tolices alheias, do género Quintas das Celebridades (interrogo-me como é que há alguem que gasta os preciosos minutos da sua perene existência a ver uma coisa daquelas);
- ou simplesmente acham que ler é muito chato.
Não me parece que por se ter lido um mau livro, isso seja motivo para afastar de vez a leitura doutros. Há sim que criar hábitos. Depois de os ter, é sentirmos a frustração de Almada Negreiros: ter a certeza, ao entrar numa livraria, que não conseguiremos ler metade dos livros expostos.
Continuo a dar o direito ás pessoas com não gostam de ler de não o fazerem...e não é legitimo que uma pessoa que não lê não se desenvolve....apesar disso obvioamente que acredito na leitura.
Pjg escreveu :
"Quem sabe talvez toda esta amálgama de conceitos tão próximos, mas tão díspares, fosse facilmente resolvida se se lesse um pouco mais dos tais autores arrogantes."
...a arrogância intelectual é do pior..tipo aquele chá que ou se bebe em pequeno...ou nunca mais vamos tomar que chegue
Sou muito céptica em relação ao desenvolvimento de quem não leia Miguel. Sinceramente. Ainda mais num mundo em constante mudança.
Além da confusão entre arrogância e disputa intelectual (o provar razão), ainda acrescentaria a troca de ideias (encontro da melhor verdade). É aquela em que não se cobra nada nem se trocam galhardetes, mas reconheço que é muito mais dificil. Os intervenientes (pensadores) têm que estar em sintonia conceptual e com um bom domínio do assunto.
Outra bem vista é essa tal humildade rotineira que se apregoa que equivale a se concordar com tudo para não se ficar mal ou então a simplesmente calarmo-nos para não "magoar" o outro. Acho isso um perfeito disparate. As pessoas chateiam-se por tudo e por nada sem razão, no fundo chateiam-se consigo mesmas qd percebem que não estão correctas.
Depois, essas humildades levam mesmo à subalternidade - o que tb não me entra no dicionário. É por isso que estamos tão avançados... quando nem autonomia pessoal (passo o pleonasmo) temos.
Deve-se praticar a humildade dentro desses 2 pontos e mais nenhum. Ao termos razão não devemos andar com rodeios de falsas modéstias, devemos é sempre esclarecer bem o outro ou caso contrário, entendermos os nossos próprios limites e não dar tiros para os pés.
Acho que à pseudo-arrogância (firme e legítima convicção) também se deveria realçar que um pouco de tacto na frontalidade não fica mal. Evita a não aceitação por parte do outro no diálogo. De resto, suponho que estejam criadas condições para que tudo corra bem.
Mais arrogante que Nietzsche ainda não encontrei, mas há um português que se aproxima, Eduardo Lourenço, o homem que dá tareia a Portugal, e bem merecida.
Cara Rosa, comecei a ler depois dos 26 anos, hoje com 40 tenho o meu percurso que sem ser melhor ou pior do que os outros foi construido por mim. O que tenho apregoado aqui e pela minha vida fora é que de facto á formas e formas de dizer as coisas. Como bom madeirense~não devia evitar tantoi as discussões como as vezes faço...mas deixem-me no meu cantinho. Outra possibilidade e se for do seu gosto obviamente que a tomo é de lhe deixat de a viitar por aqui...se incomodo....é uma possibilidade
É a isso que me refiro Miguel! Mas por que diabo haveria de me estar a incomodar? Bem pelo contrário, gosto dos seus comentários porque tem uma visão diferente das coisas em alguns assuntos, não o conheço mas respeito-o, senão nem lhe daria resposta. Pensei que já soubesse, mas realço e para que fique bem claro, não sou de fretes.
Isto aqui nos blogs pelo menos para mim, é como na rua. Não sou conformista e ninguém me vai despentear por discordar (e se me despentearem penteio-me logo a seguir em grande estilo, hehe).
Miguel, mas lê! É a isso que me refiro. Tarde ou cedo, lê, e essas leituras transportaram-no para outras e o seu percurso inevitavelmente alterou-se. Estou correcta? Até preferia que os leitores lessem apenas 1 bom livro por ano em vez de 10 ocos por mês (um bom exemplo, o da rebelo pinto com os sei lá's). Ou que evitassem ficar de boca aberta num sofá a ver quintas de (até me custa a escrever a palavra) celebridades. Palavra de honra. A minha mãe via isso, não será nesta vida que vou entender isso. Eu recuso-me mas respeito-a claro está. Cada um trilha o seu percurso. Ninguém o pode fazer por nós. Quem assim pensa, vive numa pura ilusão.
Clarificando: Isto tudo para nós que gostamos e nos interessamos em especial pelo conhecimento e que nos queremos superar a nós próprios.
No caso da minha mãe por exemplo, os interesses são outros, não a culparia nunca pelas suas escolhas televisivas e ela até lê umas coisitas, mas é definitivamente outra a sua preocupação.
O que está em questão é que ler faz bem e aperfeiçoa o ser humano no que diga respeito a vastissímas áreas.
Quanto a ficar no seu cantinho e não se meter em polémicas na escola... pois fique, se acha que não pode fazer a diferença pela positiva, só faz é bem. É mais do que legitimo. Eu pelo que ouço de si e leio no seu blog, não acho que seja de estar quieto, e tanto é, que tem feito muita coisa de jeito por lá.
Há formas de se dizer as coisas. Há. E sem cultura sabê-lo-emos fazer?
Miguel, reconheço que o "tacto" não é o meu 7º sentido, mas sei que posso "falar" assim consigo porque afinal já não somos assim tão estranhos. Agora pergunto-lhe eu: Prefere que seja mais contida e cordialmente correcta consigo ou que mantenhamos o ritmo? ;)
E Miguel, vou ter que lhe dizer mais isto.
Não sou arrogante mas gosto de pensar que sou uma boa comunicadora. Entendo bem o que as pessoas me dizem quando na realidade queriam dizer outras coisas, é o tal braille psicológico. Já não se passa é o inverso a maior parte das vezes, e estou a falar para si mas não de si, estou ainda a seguir raciocínio sobre a clarividência que o conhecimento possa trazer.
Outro dia li uma frase (já não sei de quem) que dizia mais ou menos isto:
Bons são os que nada sabem e os que muito sabem e descobrem a sua ignorância, retornando assim ao ponto de partida mas enriquecidos pela consciência e pelo saber de que nada se pode saber. Todos os outros que estão a meio, ou continuam a querer mais para melhorarem ou só estorvarão a sociedade com disparates.
Eu estou a meio Miguel mas quero à força toda não parar.
Fico feliz que os meus comentários sugiram outros, maiores que o texto inicial, ainda mais feliz fico quando estes discordam da minha opinião, de forma respeitosa. Se sempre fosse assim, não tinha necessidade de ser mais agreste com os comentários aos comentários dos colegas. Acho efectivamente que tem havido alguma arrogância intelectual em alguns dos comentários feitos aqui. Fico inclusivamente com a ideia que (não é o seu caso) alguns dos participantes se julgam donos da verdade (quiçá única). Confesso que esse facto faz-me “saltar a tampa”, aliás vivo a vida com paixão e sem qualquer vocação para dar a outra face. Aprendi que se deve discordar, colocando a possibilidade de estarmos errado. Mas voltando ao assunto que é objecto da discussão (os hábitos de leitura), lamento que não tenham entendido: 1) não sou contra a leitura; 2) que não afirmei que esta não é importante para o desenvolvimento integral do individuo; 3) que não apelei para que se pare de ler ao primeiro encontro com um péssimo livro. O que tentei alertar, e não foi aos participantes, visto estes darem a entender que têm a receita única para a questão, foi que: a) é possível evoluir sem ler (apesar de não ser desejável); b) Há maus livros que são claramente fruto de uma pseudo-intelectualidade ( aliás vivemos numa sociedade, que chama intelectual a quem utiliza palavras difícil, independentemente de estarem contextualizadas ou não); c) os livros, muitos deles, não são acessíveis, nem monetariamente, nem pela escrita que apresentam. Fico de facto triste que face aos baixos índices de leitura que o nosso país apresenta, se culpe um único lado….quando uma grande parte de quem escreve, quando o faz não liga nenhuma para quem lê, apesar depois se queixar que não se lê. porra nunca escrevi um comentário tão grande...desculpe
Ía começar a desbobinar outro comentário enorme e apaguei-o.
Eu entendi-o Miguel, desde o seu 2º comentário.
Bj*
Pois e provsvelmente tb entendeu que se mandei recados, nos meus comentarios seguintes não eram para si...eh eh...mas não se acanhe e envie-me esse tal comentário que apagou...nem que seja por email
Entendi isso tudo sim.
O comentário foi apagado, não guardei. Não era nada de especial, acabei por dizer numa frase o que iria dizer em muitas.
*
Perdão.
Por lapso, a identificação que surgiu é do do meu recente blogue (passe a publicidade)
Não resito em completar o meu anterior pensamento.
Ainda quando à minha arrogância. O Miguel diz, a certa altura, nos seus recados (por favor... já tem idade para não falar em surdina, não acha?), que quando discorda coloca sempre a hipótese de estar errado.
Tal pensamento está, e peço desculpa, claudicado.
Não se discorda colocando a possibilidade de se estar errado.
Discorda-se convicto de que se está certo. Se o adversário provar ou demonstrar alguma falácia no pensamento, aí sim, dever-se-á dar mão à palmatória. Deste modo o mérito é todo de quem teve a destreza e a sageza de alterar qualquer coisa que estaria supostamente apreendida. Se se tiver um carácter pusilânime, estar-se-ia a retirar todo o mérito do adversário.
É tão simples como jogar xadrez, meu caro Miguel.
Se estava a pensar em Decartes quando disse isso, pois presumo que está a obliterar a ideia desse Autor.
Há que duvidar. Certo. Mas duvidar metodicamente e não apenas duvidar por duvidar. E depois, a dúvida surge como um processo dialéctico para a tomada de decisões e não para depois de as tomar.
Enfim...não sou eu que tenho formação em filosofia, mas penso que é esta a ideia central cartesiana.
Como já disse outrora, neste campo sou autodidacta.
Termino repetindo: mal estaríamos, e mal estaria toda a Humanidade, se quando defendemos qualquer ideia o fizessemos com a expectativa de se estar errado.
Está errado, caro Miguel. Está errado.
Eu sou muito dona do meu nariz também e isso pode ser interpretado pelos outros como arrogância, não o é. É ter as minhas verdades, como diz o PJG. Tenho-as sim, e reconheço-as como mutáveis, porque caso contrário seria uma nulidade.
Devo dizer que em termos de lógica silogística e mesmo a tautológica, o PJG tem a matéria bem estudada. Ajuda bastante a detectar erros de racíocinio.
Miguel, não se importe estas nossas "arrogâncias". Não é falta de respeito, é a nossa forma de nos expressarmos, é uma convicção que induz a isso. Talvez por defeito/virtude dos nossos cursos em que há muita exigência de interpretação e de discursos rigorosos.
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