domingo, fevereiro 06, 2005

A Virtude Pura não Existe nos Dias de Hoje

Numa época tão doente como esta, quem se ufana de aplicar ao serviço da sociedade uma virtude genuína e pura, ou não sabe o que ela é, já que as opiniões se corrompem com os costumes (de facto, ouvi-os retratarem-na, ouvi a maior parte glorificar-se do seu comportamento e formular as suas regras: em vez de retratarem a virtude, retratam a pura injustiça e o vício, e apresentam-na assim falsificada para educação dos príncipes), ou, se o sabe, ufana-se erradamente e, diga o que disser, faz mil coisas que a sua consciência reprova.
(...) Em tal aperto, a mais honrosa marca de bondade consiste em reconhecer o erro próprio e o alheio, empregar todas as forças a resistir e a obstar à inclinação para o mal, seguir contra a corrente dessa tendência, esperar e desejar que as coisas melhorem.

Montaigne, in 'Ensaios - Da Vaidade'

2 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

reconhecer o erro é complicado... muitas vezes vivemos tão em nós próprios que não o conseguimos fazer... mas com bom senso cá vamos andando e esperemos ou tentemos fazer que isto melhore.

beijos

RD disse...

Nem mais Pedro, nem mais.
Todos temos pré-conceitos, sem eles não teríamos qualquer base de juízo possível, mas há que, acima de tudo, saber que estes são móveis, em constante devir - é esta a sapíência do "só sei que nada sei", o reconhecer a ignorância do "sei" que me falas. Todos os dias há uma renovação constante senão não haveria adaptação (mas sim desorientação). Saber fazê-lo com lucidez? È o cerne da questão.
Mas a dúvida...? A dúvida é o reconhecimento consciente (ou não), da necessidade de adaptação, de precisar de mais em-mim e para-mim. Duvidemos amigo Pedro, duvidemos :) Jinhos