sexta-feira, abril 08, 2005

Inteligência Espiritual

O QEs é uma capacidade tão antiga como a Humanidade, mas o conceito só foi totalmente desenvolvido pela primeira vez neste livro. Até agora a ciência e a psicologia científica têm tido dificuldades em discutir o sentido e o seu papel nas nossas vidas. A inteligência espiritual tem sido uma coisa estranha para os académicos porque a ciência existente não está equipada para estudar coisas que não possam ser medidas objectivamente.

Existem na verdade provas cientificas do QEs nos recentes estudos neurológicos, psicológicos e antropológicos da inteligência humana. Os cientistas já fizeram a maior parte da investigação básica que revela as fundações neurais do QEs, mas o paradigma do QI dominante obscureceu as investigações posteriores. Este livro irá reunir quatro correntes de investigação especifica que até agora permaneceram separadas devido à natureza altamente especializada da ciência existente.

Primeiro, no início dos anos 90, a investigação levada a cabo pelo neuropsicólogo Michael Persinger, e mais recentemente, em 1997, pelo neurologista V.S.Ramachadran e a sua equipa da Universidade da Califórnia, sobre a existência de uma "área de deus" no cerebro humano. Este centro espiritual incorporado situa-se entre as ligações neurais nos lobos temporais do cérebro. Em scans tirados com topografia através da emissão de positrões, essas áreas neurais iluminam-se sempre que os sujeitos a investigação são expostos a discussões sobre temas espirituais ou religiosos.

Segundo, o trabalho do neurologista austríaco Wolf Singer, nos anos 90, sobre o "problema da ligação", mostra que há no cérebro um processo neural com vista a unificar e dar sentido à nossa experiência - um processo neural que literalmente "liga" as nossas experiências. Antes do trabalho de Singer sobre a unificação e oscilações neurais síncronas em todo o cérebro, os neurologistas e cientistas cognitivos só reconheciam duas formas de organização cerebral neural.
Uma destas formas, as ligações neurais em série, é a base do nosso QI. Os tractos neurais ligados em série permitem que o cérebro siga regras, que pense lógica e racionalmete, passo a passo. Na segunda forma, a rede de organização neural, feixes de mais de cem mil neurónios estão ligados de uma forma acidental a outros feixes maciços. Estas redes são a base do QE, a nossa inteligência ligada à emoção, que reconhece padrões e constrói hábitos.....O trabalho de Singer sobre as oscilações neurais unificadoras oferece a primeira sugestão de uma terceira espécie de pensamento, de um pensamento unificador, acompanhado de um terceiro modo de inteligência, o QEs, que pode lidar com estas questões.

Terceiro, na sequência do trabalho de Singer, o trabalho de Rodolfo Llinas, em meados de 90, sobre o sono e a consciência desperta e a ligação dos factos cognitivos no cérebro, foi muito favorecido pela nova tecnologia MEG (magno-encefalográfica), permitindo estudos em todo o crânio dos campos eléctricos oscilantes do cérebro e dos seus campos magnéticos associados.

Quarto, o neurologista e biólogo antropólogo Terrance Deacon publicou recentemente novos trabalhos sobre as origens da linguagem humana (The Symbolic Species, 1997). Deacon mostra que a linguagem é uma actividade unicamente humana, essencialmente simbólica e centrado no sentido que co-evoluiu com rápido desenvolvimento nos lobos frontais do cérebro. Nem os computadores existentes, nem sequer os macacos mais evoluídos (com raras e limitadas excepções) conseguem usar a linguagem, porque lhes falta a capacidade do lobo frontal para lidar com o sentido. Este livro irá mostrar que todo o programa de investigação de Deacon para a evolução da imaginação simbólica e o seu consequente papel no cérebro e evolução social corrobora a faculdade da inteligência a que chamamos QEs.

Danah Zohar e Ian Marshall in Inteligência Espiritual

Leitura sugerida pela Beatriz, à qual agradeço muito :)

9 comentários:

RD disse...

A quem possa interessar:
Título: Inteligência Espiritual
Autores: Danah Zohar e Ian Marshall
Editora: Sinais de Fogo; Colecção, Outro Olhar, Lisboa, 2004 (a edição original é de 2000).
Preço: 18 euros (só por curiosidade)

carlos disse...

...não sei porquê, mas a ideia de "emoções inteligentes" soa-me um bocado desafinada. A dita "área de deus" - que é no fundo um eufemismo para o transcendente - não transcenderá em muito a cartografia do cérebro? E, por outro lado, estará necessariamente ligado o espiritual e o religioso à emoção?

Aqui deixo este par de bandarilhas, correndo o risco delas não se aguentarem em pé. Vá lá, Prima Rosa, venha daí esse contraditório. ;)

RD disse...

Oh primo, não pense que tudo o que digo é na base da contradição :) Já parece a conversa de minha mãe. hehe.

Bom, é uma noção que pode parecer que não tem nada a ver e completamente despropositada por ser nova, mas acho que faz muito sentido se tivermos em conta a história da humanidade e as suas manifestações antropo-socio-culturais desde os primórdios.
Sensações e emoções todos as temos, uns mais outros menos, o busilis da questio é se as compreendemos ou não. Correcto? Mas isso é outra coisa que depende do uso da interpretação e pela razão - não querendo dizer que não seja subjectivo, porque o é, mas há um horizonte comum a todos que permite objectividade no entendimento (vá ele de encontro ou não ao dos outros), o facto é que nos entendemos mesmo que não concordemos.
O que se passa aqui, é que além desta ser ainda uma questão que ronda o transcendente - como faz o primo muito bem questão de realçar, há já alguma luz no que diga respeito a essa zona activa no cérebro, e portanto possibilidade de que deixe de ser fruto dum idealismo transcendental e passe a ser tido como estudo real e concreto.
É cedo, mas também Damásio já fez algum avanço nesse campo ao descobrir zonas que ao serem afectadas mudavam a moralidade humana, a cartografia alargou-se.
Creio que a «área de deus» é um neologismo criado para enfatizar essa área que poderá comandar a dimensão dita «espiritual» do homem, não tem a ver estritamente com a religião em si, mas com mais manifestações.
Chama-se dimensão espiritual ao que nos une sem explicação, nomeadamente a simpatia, a empatia, o amor, a nossa saudade (entre outras). Penso que isto responde à sua última questão. Isto claro, se não quisermos colocar estas emoções como reações meramente químicas. Eu não arrisco, parece-me deveras redutor.
Portanto quociente de inteligencia espiritual para mim faz sentido, até porque já é um assunto estudado pelos experts da história da ética há muito tempo, mas sob o nome de dimensão espiritual do homem. Não sou dogmática nem uma céptica desenfreada, sou uma crente atenta mas crítica. Aguardo serenamente desenvolvimentos sempre de olho vivo, pois já se sabe! :)
Primo, o próprio olhar e a percepção sobre a História. São só factos, datas, acontecimentos? Onde cabe a mundividência de Dilthey? E outros tantos, que desses sabe o primo mais do que eu.
Bj*

RD disse...

Lembrei-me de mais umas coisas.
É preciso mesmo ter-se algum cuidado em fazer-se a distinção entre emoções e dimensão espiritual. As emoções na sua maior parte estão explicadas pela Psicologia pontualmente, consoante os casos, e no geral pela Filosofia. Vejamos um exemplo: O Zé anda triste - a Psi tenta explicar porquê e consoante a situação existencial do Zé ensina-o a lidar com isso bem como a superar esse estado de angústia. Nós da Filosofia explicamos a causa da tristeza, da angústia e sempre na sua generalidade.
Já a dimensão espiritual é algo que não tem uma definição pontual, é apenas uma característica de elo entre seres humanos. Quase poético. É algo que nos une, como o mar ou a bruma e nos dá «alma».

Ou era... acompanhemos as cenas do próximo capítulo.

Biranta disse...

Este texto vem-me mesmo a calhar. Vem a propósito dumas "coisas" que tenho em mãos. Percebo perfeitamente a ideia... Aliás, acho que, com fundamento científico, este texto se limita a "explicar" fenómenos conhecidos há séculos.
A ciência "queixa-se" muitas vezes, da tirania dos preconceitos obscurantista. No entanto, neste tipo de coisas, tem feito exactamente o mesmo papel, com uma arrogância e prepotência quase tirânicas. A mania de deter o domínio da verdade faz muitos estragos, em ambos os sentidos... Há mais coisas entre o céu e a terra...

RD disse...

Pois é. Há muito por descobrir ainda.
Tem havido vários diálogos bastante interessantes, em matéria de ética, por parte das comissões internacionais. É preciso é esta interdisciplinariedade de profissionais de várias áreas, em discussão aberta e sem preconceitos, senão estagnamos todos em vez de nos ajudarmos uns aos outros.
Temos que compreender também o papel da ciência que tenta ultrapassar com clareza e rigor muitos velhos preconceitos em desuso, é legítimo, e creio que não ficamos indiferentes a ela desde que não se caia em tiranias. Mas também ela terá que saber reconhecer outras áreas como fundamentais ao desenvolvimento humano.
Biranta, também é válido para si o meu convite a algum texto que ache oportuno e queira partilhar connosco aqui. Basta mandar-mo por email.
Beijinhos*

RD disse...

Curioso que me fez pensar noutra coisa.
Acho que a «verdade» não é a preocupação última do ser humano, não a nossa pelo menos, mas sim a felicidade, o bem viver. Ora quando as ciências em geral da actualidade não se preocuparem em atingir esse seu fim, mas sim o meio para o fim que será a felicidade, talvez a mentalidade mude.
Eu prefiro ler antes de mais a sabedoria grega.*

RD disse...

Bjinhos miga. Qq coisa manda!!!

Anónimo disse...

Viva Rosita!

Hoje tenho algum tempito para dar uma olhadela nos Blogs mais interessantes e ca estou eu.

Esse conceito de inteligência esp, depois da também conhecida inteligência emocional e neta do velho Q.I é especialmente pertinente. Tém algo de transpessoal, não diz apenas respeito à um egozinho restrito e transcendental, o que é novo é que o conceito pode ser estudado e desse modo clarificado.

Parabéns pelo Post, se tiveres interesse, podes também dar uma espreitadela a Inteligência Emocional de Daniel Goleman.

Bjufas.

alvesPEDRO